domingo, 2 de março de 2014

Geração Coca-cola

       
Link da imagem: http://darkbutbright.wordpress.com/2011/03/03/httpdarkbutbright-files-wordpress-com201103axial-city-2-jpg/ 

         Vocês já devem ter escutado dos mais velhos que somos uma geração que não ama profundamente, que não vive com intensidade, que se aprisiona às tecnologias e se afasta das relações sociais. A geração que perdeu os valores clássicos da família, que não respira mais o ar puro que respirava seus avós e que consome produtos industrializados como ninguém. E mesmo sendo jovem, não posso discordar de nenhuma dessas afirmações: Os tempos mudaram (de novo).

          Somos filhos do modernismo, do capitalismo e do liberalismo e assim como nossa arte, economia e ideais nossos valores sofreram mutações. Rousseau já dizia que o homem é fruto do meio e Kant complementou dizendo que são fruto de suas experiências, tivemos contato com coisas que nossos avós nem mesmo imaginariam que iria existir, eu mesma jogava video-games e usava a internet com a idade que minha avó subia em árvores, ainda muito jovens nós descobrimos que poderíamos obter qualquer coisa com um único clique e talvez  isso tenha nos tornamos tão diferentes de nossos geradores. 

          Tornamo-nos uma sociedade imediatista e impaciente e o mundo passou a cobrar cada vez mais rapidez em nossas ações, e assim surgiram novas invenções a fim de otimizar cada vez mais o tempo, por exemplo: hoje fiz compras, paguei um boleto da universidade, assisti um filme e conversei com meus amigos, sem nem mesmo levantar da escrivaninha, em contrapartida essa sociedade nos ensinou que "tempo é dinheiro" e que o dinheiro é o mais importante da vida. A correria do dia-à-dia nos obriga a consumir lixos industrializados, causa doenças psicológicas como os TOCs, ansiedade, sem contar as diversas manias e fobias causadas pela rotina atual. 


          O capitalismo também nos ensinou que tudo é substituível, desde os utensílios domésticos as relações sociais e isso é uma das coisas que eu particularmente acho mais incrível na contemporaneidade: Somos livres de qualquer algema que nos prenda a outras pessoas. Não há mais a velha história do infelizes para sempre, nem do casados para evitar as más línguas. Isso significa que abraçamos o conceito de liberdade. A liberdade como escolha e estamos felizes com essa liberdade, já que podemos sempre reescolher, adaptar, romper, mudar. Isso nos dá esperança que o amanhã nem sempre será igual o hoje e que o hoje não precisa ser como o ontem, porque a vida não é cíclica.

          Eu, por exemplo, sou filha de pais separados. Meu pai sempre entendeu bem esse conceito de liberdade, hoje é casado com sua quarta esposa, e sempre me diz: "A vida é curta, não temos tempo a perder não sendo felizes". E isso é algo que eu tento levar para minha vida, aprender a desapegar daquilo que não me soma e aprender a seguir alegre mesmo quando sozinha. Minha mãe também deu um giro em sua vida, hoje parece mais jovem que a doze anos atrás (antes do divórcio), aparenta mais viva e mais feliz, deixou renascer os sonhos que antes deixara morrer. 


          O século XX para mim foi um século incrível para o mundo, sobretudo para o Brasil, no início do século pertencíamos a uma sociedade paternalista e oligárquica, mas partir do ano de 1922 com  fortalecimento da contracultura foram rompidos quase todos os padrões pré-estabelecidos da época construindo uma nova sociedade. E esse é um dos maiores problemas da nossa geração,  já lutaram nossas maiores lutas. Estamos acomodados em nossas posição de conforto, os professores de História já nos convenceram que a utopia não existe e por isso paramos de buscar por ela. E mesmo com todos os problemas que nos afundamos não nos rebelamos contra nenhum sistema, pois nada parece realmente valer a pena para nós.

          As mudanças ao longo das gerações é algo já observado a milhares de anos, os ideais não são transmitidos perfeitamente de pai pra filho. No nosso caso somos uma geração cercada de benefícios e malefícios, possuímos grandes vantagens relacionadas a liberdade e igualdade, ao mesmo tempo que possuímos uma qualidade de vida reduzida diante as obrigações com o mundo capitalista. Nesse ultimo caso faz-se assim nosso dever exigir maior controle e pesquisa sobre aquilo que consumimos e sobre formas de prevenção das doenças contemporâneas.

4 comentários:

Excelente iniciativa, parabéns pelo blog e pelo texto!

Gostei particularmente dessa frase: "Estamos acomodados em nossas posição de conforto, os professores de História já nos convenceram que a utopia não existe e por isso paramos de buscar por ela."

Parecer ser mesmo o símbolo da nossa geração desde pelo menos os anos 80/90. Agora com esses novos movimentos em diferentes cantos do mundo, talvez estejamos passando por um novo processo de reflexão, quem sabe?

Olá Felipe,
Muito obrigada!
Quem sabe...
Eu percebo que os movimentos sociais hoje são muito mais pontuais que os do século XX, há muito mais uma lutas das minorias (GLBT, feminismo, movimento indígena, etc)
Eu acho esses que esses movimentos também possuem extrema importância (aliás sou uma forte defensora deles), mas ainda sinto que falta algo que mobilize o resto da população por um objetivo mais abrangente em relação ao brasil.

Olá Fernanda, seu texto é bem esclarecedor, fácil de entender, parabéns por optar em transmitir seus conhecimentos de filosofia e socilogia para todos nós. Talvez descubra algo do mistério que estas grandes ciências ou matérias ainda não desvendaram. Com a velocidade da informação nos dias atuais, eu suponho que isto seja possível. Mas acho que estamos perdendo também as fontes preciosas sobre tudo isto, que são os mais velhos e vividos. E o perigo será desacobrir de verdade de onde viemos e para onde vamos, através da tecnologia escravagista. Muito obrigado pelos dez pontos lá do YR.

Olá josehrio,
Fico feliz que tenha gostado.
Na verdade, não pretendo descobrir esses grandes mistérios, até porque eles não fazem parte do meu círculo de interesses, logo vou deixá-los para algum pesquisador hehe me interesso realmente por questões antropólogas e sociológicas que estudam o comportamento do indivíduo no meio e o que podemos fazer para melhorar o convívio e o bem-estar social.
Fora isso, concordo em partes com você sobre os mais velhos e mais vividos, claro que devemos escutá-los e tomar como base aquilo que eles já descobriram, mas é bom lembrar que muitos deles possuem a marca da intransigência gerada por suas experiências de vida e isso acaba fazendo com que a mudança real venha das gerações mais jovens.
Obrigada pelo comentário :)

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